segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A lenda da lenda do macaco mágico

Você já ouviu falar na lenda do macaco mágico? Se disser que ouviu é mentira porque ela não existe, por isso é a lenda da lenda, uma história inventada pra contar uma história que nunca existiu, entendeu? Ficou meio confuso não é? Mas deixa isso pra lá e presta atenção na história.
Era uma vez uma tribo indígena que ficava bem no meio da selva onde nenhum homem branco tinha chegado.
Os índios daquela tribo eram muito sossegados. Sossegados até demais. Como era uma tribo isolada não guerreavam com ninguém e também não tinham muitos rituais. O único ritual que faziam era escolher com quem os filhos se casariam desde criança. Ah! E tinham uma mania de sair correndo e se esconder quando começasse a chover. Mas quando a chuva passava tudo voltava ao normal.
O barulho da mata era encantador e para os índios aquele lugar era sagrado.

Era índio dançando
Passarinhos cantando
Folhas se mexendo
Vento uivando
Riacho correndo

E assim acontecia quando tudo ia bem. Mas de repente, não se sabe por que, um barulho estremecia e todo mundo corria. Corria e se escondia, com medo não sei do que.
Quem saísse pra pescar era pescado , quem saísse pra caçar era caçado, e todo mundo apavorado ficava bem quietinho e esperava o barulho passar.
E quando ele passava tudo voltava ao normal:

Era índio dançando
Passarinhos cantando
Folhas se mexendo
Vento uivando
Riacho correndo

Você deve estar pensando que esta história está errada, não é? Onde já se viu índio ter medo de chuva, e onde está o macaco mágico dessa história? Pois agora eu vou contar.
“ Há muito tempo atrás um feiticeiro se apaixonou por uma bela índia e quis se casar com ela, mas ela era apaixonada por outro índio e não aceitou o seu convite. Enfurecido e enciumado o feiticeiro fez um feitiço para que ela se apaixonasse por ele mas o amor dos dois era tão grande que o feitiço não funcionou. Então o feiticeiro ainda mais enfurecido e mais enciumado jogou um feitiço naquela tribo acabando com todo sentimento de amor que existisse. E como nesse dia estava chovendo muito todos ficaram com medo da chuva.”

-E o macaco?

O macaco entra agora. Como todo feitiço que se preza esse também podia ser desfeito. Bastava encontrar o macaco mágico. Um macaco que andava de cabeça para baixo. Só ele tinha a fórmula do amor. Mas o feiticeiro era tão esperto e tão maldoso que no último minuto inventou que só um casal apaixonado poderia ver o tal macaco. E isso aconteceu há tanto tempo atrás que todo mundo já estava acostumado a se casar por casar e era tudo tão sem graça que dá vontade de chorar.
E essa história até poderia terminar aqui se não fossem as crianças. E criança espoleta tem em tudo quanto é lugar, até nessa tribo sem graça.
Cauã e Saíra eram amigos inseparáveis e já eram prometidos um para o outro desde o nascimento. Brincavam e aprontavam o dia todo mas não sentiam nada um pelo outro mas também nem sabiam que não sentiam nada. Os dois cresceram ouvindo de seus pais que a chuva era seu pior inimigo, que coisas horríveis aconteciam lá fora e o trovão era um grande dragão que cuspia fogo e iluminava o céu.
Cauã e Saíra ouviam aquelas histórias e ficavam com muito medo, mas também ficavam cada vez mais curiosos.
Um dia os dois indiozinhos estavam brincando na mata ouvindo seus barulhos.

Era índio dançando
Passarinhos cantando
Folhas se mexendo
Vento uivando
Riacho correndo

Quando de repente, ouviram o barulho do grande dragão. Por um momento pensaram em sair correndo, mas estavam muito longe de casa e não conseguiriam chegar a tempo, então resolveram se esconder embaixo de uma grande árvore e lá ficaram, esperando que o pior acontecesse. Ouviram barulhos estranhos e sentiram medo. O barulho da chuva nas copas das árvores não era tão ruim, mas o grito do dragão era apavorante e estava chegando cada vez mais perto.
E assim o tempo foi passando e nada do terrível dragão chegar. Cauã e Saíra já estavam cansados e já não estavam mais com medo. Começaram a perceber que o barulho acontecia depois que o céu se iluminava e começaram a achar que o dragão era invisível e não era tão mal assim. Resolveram então sair para brincar na chuva e descobriram como é bom sentir o cheiro da terra molhada, correr e brincar sem medo de nada.
A chuva passou e os dois foram correndo para casa avisar seus pais que o dragão não existia e a chuva era boa. Quando atravessaram a ponte tiveram a visão mais colorida que alguém poderia ter, o dragão além de não ser do mal, ainda deixava de presente a cada chuva uma mistura de cores no céu que formava um arco de uma ponta à outra.
E foi assim, que os dois se olharam e pela primeira vez se viram de uma forma diferente, sem medo, meio colorida, com ternura. Era o amor que nascia no coração dos dois.
E desse jeito conseguiram mostrar ao seu povo que a chuva era boa e o amor existia.

-E o macaco mágico?

Ah! O macaco mágico. Eu já ia esquecendo dele. Em cima do arco-íris uma nuvem formou um desenho. Um desenho mágico que parecia um macaco de cabeça para baixo.
Essa é a história de dois jovens que com medo da chuva encontraram o arco-íris, e com a beleza do arco-íris descobriram o amor.
E tudo voltou ao normal e quando chovia, ninguém mais se escondia.

Era índio dançando
Passarinhos cantando
Folhas se mexendo
Vento uivando
Riacho correndo
Trovão trovejando
Chuva caindo
Índio dançando.


FIM

Utilizar instrumentos para sonorizar as partes que estão em negrito.

Dedico essa história à minha Filha Isabelli , que ainda tem medo da chuva.

Com essa história podemos fazer uma comparação com os povos ou países que vivem em guerra, que se escondem atrás de seus tanques e mísseis e não vêem no outro a possibilidade do amor. Enfrentam seus dragões e não enxergam o arco-íris, não enxergam os desenhos das nuvens, não sentem a presença de Deus.

Ana Maria

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